quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Versado em simplicidade

Façamos assim:
Você se preocupa com a dívida externa,
Com juros compostos e a política,
Com documentário russo e arte moderna,
Com discursos sobre sombras na caverna,
Com livros cult, seus autores e crítica.

Quanto a mim:
Eu me preocuparei em ser alegria,
Em experimentar a dor e o prazer,
Em pedir licença e desejar bom-dia,
Em viver simplesmente de suor e poesia,
Em aproveitar do que o amor tem a oferecer.

E por fim,
Nada tenho contra um livro interessante,
Discutir política econômica, ou filosofar,
Mas preferiria você sendo ignorante
A ser tão versada, no entanto, arrogante,
E com o único intuito de impressionar.


ainda que [eu]...
conhecesse...
toda a ciência...
e não tivesse amor,
nada seria.

 - I Coríntios 13:2

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Haikai do romeu e julieta

Sua pele é meu queijo,
E doce, como se fosse
Goiaba, é seu beijo.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Tatuagem

Eram duas corujas lado a lado,
Sobre um galho, desenhadas no braço
Em tons de cinza e delicado traço:
Na tatuagem, ela e o namorado.

Mas quando ele viu, ficou assustado.
Não conseguiu disfarçar o embaraço.
O traço era fino, mas o erro, crasso.
Ele a criticou pelo ato impensado.

E foi assim, querendo demonstrar
Ao mundo o amor que sentia por ele,
Que ela trouxe o fim à sua relação.

Em pensar que só queria tatuar
Um pequeno sinal sobre sua pele
Do que já tatuara em seu coração.

v.: 0.1

terça-feira, 28 de maio de 2013

O sexto bit

Os cinco primeiros bits se apagando
Saem de cena para o sexto brilhar.
E brilha com um clarão estelar,
Após trinta e dois anos hibernando.

Passadas três décadas no casulo,
Abre as asas e em voo abraça o mundo,
E não quer perder nem mais um segundo,
Pois em três décadas volta a ser nulo.

Mesmo sendo taxado de tardio,
De ser como o quinto - o adolescente,
Ele apenas sorri em desafio.

É velho e é novo, cheio de planos,
Sonhos e tanta vida pela frente,
Que vai brilhar outros trinta e dois anos.

v.: 0.1

Pela versão 1000002

quarta-feira, 15 de maio de 2013

A ilha deserta

Veja como brilha esse azul do mar:
Lábios de safira sempre tocando
Essa areia branca, em um beijo brando,
Da linda ilha deserta e sem par.

Todas as suas palmeiras a dançar
Ao som da brisa que passa tocando.
E é ainda maior sua beleza quando
Se banha, a noite, na luz do luar.

Enfim, no horizonte, surge um navio,
Mas a alegria logo vira dor:
A embarcação passou e não a viu.

E é dessa forma que a dor vai brotar
No peito da moça que vê o amor
Passando por ela sem aportar

v.: 0.1



e sou a ilha deserta
onde ninguém quer chegar.
[...] chorando por um navio
que passou sem lhe avistar.

 - Lenine (Miragem do Porto)


This girl tries her best everyday,
but it's all gone to waste
'cause there's no one around.
This girl she can draw, she can paint,
likes to dance, she can skate,
now she don't make a sound.

 - James Morrison (This Boy)

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A dor maior

Só existe uma dor pior que a do parto
E ainda assim, aquela nem chega perto.
É pior do que ter o peito aberto
A ferro; muito pior que um infarto.

Não há anestesia que surta efeito;
Não há tratamento para essa dor;
E mesmo o tempo, seja quanto for,
Não a arrancará de dentro do peito.

Pois o tempo a ameniza, mas não cura;
Fica no coração uma amargura,
Um espinho que aflige até a mais forte.

De todas, a maior dor conhecida
É a dor da mãe que, ficando na vida,
Despede o filho nos braços da morte.

v.: 0.1

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Uma nova estrela

No céu dela surge uma nova estrela.
Parece mais próxima e mais brilhante.
Refletindo em seu olhar cintilante,
São duas estrelas os olhos dela.

E pensar que já fui visto por ela
Enquanto eu brilhava por um instante;
Mais eu brilhei quando foi minha amante
E esse amor tornava a noite mais bela.

Mas, agora que esse novo astro vem
E a encanta com o brilho que tem,
Sou ofuscado e meu brilho é em vão.

Daqui eu vejo o mesmo negro véu
E ela, a única estrela em meu céu,
Se apaga e me deixa em escuridão.

v.: 0.1

quarta-feira, 13 de março de 2013

Em cima do muro

Quem será você que eu tanto procuro
Que eu tanto espero, mas nem sei se existe
Não sei se reside no meu futuro
Ou se é a projeção de um passado triste

Sinto sua falta quando fica escuro
E ao amanhecer, sua falta persiste
À tarde me assento em cima do muro
Percebo que é o pôr-do-sol que me assiste

E em cima do muro fica a esperança
Ora tão segura de sua chegada
Que fecha os olhos e sonha e descansa

Ora, sem força alguma para crer
E, de viver de sonhos, tão cansada
Já não espera e só quer te esquecer

v.: 0.1

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Meu lugar

Eu queria estar nos seus braços
Quando me abraço em seu olhar
Eu fico a olhar os seus traços
Traço meu caminho em seus passos
E passo os dias a sonhar

Eu sonho e viajo no espaço
E faço você me encontrar
Um encontro sem embaraço
Você e eu, e os seu cachos
Eu acho, em você, meu lugar

Mas quando te vejo, não faço
Ideia do que vou falar
Meu coração em descompasso
Fica calado, e se faz em pedaços
Ao assistir você se afastar

Você se afasta e eu ameaço
Esticar meu braço pra te chamar
Mas não chamo, só chamo o fracasso
Que vem e me chama de palhaço
Já te vejo longe, onde vai sempre estar

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Mão no bolso

Ele colocou a mão no bolso
Quando a viu chorando calada
E procurou por um presente para ela
Talvez por pássaros cantando à janela
Por um pôr-do-sol, uma noite estrelada
Ou por uma manhã clara e bela

Porém, em seu bolso não tinha nada
Nada que fizesse um sorriso brotar
Que remendasse todos seus pedaços
Mas levantando os braços no ar
Ele aproximou-se dela, devagar
E a envolveu em um abraço

Só que isso não foi suficiente
Mas para ele não foi surpresa
Pois percebia a grande tristeza
No entanto, a única intenção que tinha
Era que ela tivesse a certeza
De que ele nunca a deixaria sozinha

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Um bilhão

Enfim meu primeiro bilhão!
Não, não é dinheiro...
Não é dólar, nem é real,
Mas é meu e verdadeiro.

Um bilhão de grãos de areia
Que deslizaram por minha ampulheta.
Um bilhão de gotas de vida
Que despejadas em minha clepsidra
Transbordam quem eu sou hoje.
Um bilhão de fragmentos
Que unidos de mãos dadas
Até aqui formam minha estrada
E traçam meu caminho no tempo.

Enfim um bilhão de segundos.
Um bilhão!

Esse é tempo que estou no mundo
Nessa carreira incansável da vida.
Se fico em terceiro, se fico em segundo,
Não me importo! Eu sigo a corrida.
Eu não quero chegar em primeiro,
Mas vivendo bem cada segundo,
Continuo minha busca de ser inteiro.


Pelo meu bilionésimo segundiversário,
completado em 3 de fevereiro de 2013 às 16h31min40s, aproximadamente.
Obrigado por cada um deles :)

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Na pista de dança

Sei que não devo; e nem preciso tocá-la,
Me contento em apenas vê-la dançar.
Quando ela dança, ela não encara,
Ela não se exibe e não se insinua,
Ela fecha os olhos, desliza e flutua,
E deixa a música leve a levar.

Voa feito pétala ao vento
E espalha o encanto do seu perfume.
Ela eterniza cada momento
Com a beleza do seu movimento.
Parece que a música aumenta o volume
E que aos poucos desacelera o tempo.
Em câmera lenta a vejo dançar.

A saia balança sobre as coxas suas
Seguindo o ritmo do quadril
Que ondula sob sua cintura.
Após os giros, as costas nuas
Recebem seu cabelo macio.
Seu manto negro, longo e liso.
Os pés em pontas, tão delicados,
Passeiam suaves e alternados,
Nem parecem tocar o piso.

Porém, de todo esse cenário mágico,
De todo detalhe dessa cena bela,
O que mais me prende é o seu sorriso,
Que nasce por mero descuido dela.
É tímido, comportado, mas é preciso,
E ao surgir, ele me deixa uma pista:
Ela, por mim, gosta de ser vista.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Importante

Quer-se ser bonito, chamar atenção,
Atrair olhares e ser o tal
Mas esse não é o objetivo final

Deseja-se o poder, o sucesso,
O reconhecimento e a fama,
Mas não é só pelo grana,
Nem é por mal

Busca-se o conhecimento,
O saber, a inteligência,
Entender toda a ciência,
E não por arrogância,
Não por superioridade

O que se quer na verdade
É sentir que é importante.

Cada um do seu modo,
Seja certo ou errado
Faz o que faz,
Quer o que quer
Só porque quer ser amado.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O naufrágio

Era um navio ao mar.

Há pouco tempo havia deixado a costa e foi surpreendido por uma tempestade. Não era de tanta gravidade, mas a tripulação era inexperiente. Na adversidade, não creram na bonança que veriam logo a frente.

O mais amedrontado da tripulação acabara de vivenciar um naufrágio, e apesar de ter se salvado, não se fez um marujo melhor. Temendo que dessa vez seu destino fosse pior, começou a gritar para todos os companheiros ao seu lado:

- Salve-se quem puder! Abandonar o navio!

Triste foi o episódio que se seguiu...

Um a um da tripulação desistindo de lutar, se rendeu à tempestade que logo iria se acalmar. Os sentimentos, os sonhos e as promessas se jogaram ao mar. Ninguém ficou para salvar o navio. Ninguém quis se importar.

Cada um enfrentava o mar sem muito sucesso. Pela fúria da tempestade ficaram dispersos, e lutando contra as ondas, cada um para o seu lado, nadando desesperados, procuravam se salvar.

Os poucos sobreviventes desse naufrágio, que nem se concretizou, se salvaram nas praias das ilhas ao redor. Cada um em uma ilha, ficaram sós e isolados. Ninguém se preocupava em procurar culpados, nem condenavam o primeiro, o mais desesperado. Cada um sofria sua solidão calado.

Todos os dias, ao entardecer, na hora do pôr-do-sol, procuravam um lugar no alto. Uma pedra, uma árvore, um pequeno monte. De lá assistiam uma cena triste demais, lá ao longe, no horizonte. Um navio que nunca chegou ao cais, mas que deslizava manso e em paz, e navegava sem tripulantes.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Pérola

Ela é pérola preciosa
Mas para alguns
É só mais uma
É só gostosa
Ela é pérola rara
Mas nas mãos de meninos
Cheias de dedos e cheios de taras
É só uma bolinha de gude
Que entre eles é disputada
E depois de conquistada
É colocada junto com as outras
Só mais uma para a coleção
Só mais uma bolinha
Só mais um coração

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Pensamento solto

Trancou o quarto e soltou o pensamento
Que saiu correndo para um passeio
Como pipa em dia de forte vento
Como cão que arrasta seu dono lento
Como veículo que perde o freio

Viaja para o futuro e o passado
Seu pensamento, mais veloz que a luz
Vai assim sem rumo, descontrolado
Não sabe se é guia ou se é guiado
Já não sabe mais quem é que conduz

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Enquanto durar

Balançou a cabeça para desprender o pensamento
Para desatar o nó que ficou preso na garganta
E aliviar o aperto que sentia no peito
Mas agora é tarde, não tem mais jeito
E bem lá no fundo ele sabe que já não adianta
Vai lamentar e chorar enquanto durar o sentimento
Mundo Pittônico das Ideias